sexta-feira, 12 de dezembro de 2008

A mídia que sifu


Faz tempo que não cito o Emir Sader, mas o texto dele para a Carta Maior do último dia 6/12 conseguiu exprimir de forma irretocável o day after dos bastidores da mídia oficial depois de mais um tiro pela culatra: a pesquisa Datafolha que acusou o índice de 70% de aprovação para o governo Lula. Dá-lhe, Emir:
“Crise faz despencar popularidade de Lula” – a manchete do Diário Oficial Tucano (DOT), a FSP (Força Serra Presidente), estava pronta. O editor-chefe encomendou nova pesquisa de opinião, menos de dois meses antes da anterior, para constatar os evidentes desgastes na imagem do presidente com a crise e, principalmente, com o clima de pânico e pessimismo que a mídia privada – e em especial, o DOT – tinham disseminado. Como toda pesquisa fabricada, não se pesquisava a popularidade de Lula, mas a eficácia da campanha de desgaste que a mídia oligárquica tinha desatado. Alardeia-se todo o tempo OMO LAVA MAIS BRANCO e se contrata pesquisa para conferir a efetividade da lavagem de cérebro.
Tudo pronto, convocados os zelosos funcionários tucanos da página dois, os chamados “especialistas” – disfarce tucano-fernandohenriquista – para comentar, tudo pronto para explorar a queda irreversível do apoio a Lula.


CRISE FAZ DESPENCAR POPULARIDADE DE LULA. Ou: LUA DE MEL DE LULA TERMINA DEFINITIVAMENTE.
Subtítulo: Serra se diz pronto para enfrentar a crise.

Economistas tucanos: Só volta das privatizações pode salvar o Brasil.


Faltou combinar com o povo brasileiro. Mais uma vez “o povo derrotou a opinião pública” fabricada pela mídia privada. 70% de apoio, 6% a mais que na ultima pesquisa, depois da intensa campanha propagandística contra o governo. Crescimento em todos os setores – nível de renda, nível de escolaridade, região do país, tudo, tudo, pior não poderia ser para a FSP e a direita brasileira. Conseguiram apoio de apenas 7% de rejeição a Lula, com tudo o que gastaram na campanha. Contra eles, 93%. O resultado os surpreendeu tanto que no mesmo dia da publicação da pesquisa, ninguém teve nada a dizer, nenhum comentário, luto fechado.
Foram necessárias 48 horas para encontrar palavras que dessem conta do incompreensível para as mentes tucanas dos jardins paulistanos. Depois da ressaca, das doses de uísque para consolar, o jornal sai todo sem graça, buscando razões que a própria razão desconhece, esfarrapadas, para consolar o inconsolável, depressivo e sorumbático chefe que os havia convocado para mais uma batalha serrista.

Pensaram em títulos como:


POVO AINDA NÃO PERCEBE A CRISE.
Ou: DEMAGOGIA LULISTA ESCONDE A CRISE. Ou ainda POVO BRASILEIRO, IGNORANTE, MERECE LULA E A CRISE. Ou, como teria sugerido um funcionário casado com uma tucana ou outro, casado com um tucano: FHC: LULA ENGANA OS BRASILEIROS.


Subtítulo: Ex-presidente sugere que FSP publique Max Weber em fascículos, embora creia que é biscoito muito fino para a plebe. Pensaram em declarações da sua galera, como: Gilmar Mendes: Supremo vai questionar resultado da pesquisa. Fiesp: Pessimismo empresarial ainda vai vingar. Gianotti: Leitura de Wittgenstein permite perceber que Lula está condenado pela Lógica. Assim age um jornal de rabo preso com os tucanos e, através deles, com a elite branca, milionária, um intelectual orgânico das elites dominantes brasileiras internacionalizadas. Editorial para xingar Lula, carta de leitor indignado com a realidade, um colunista diz que o desgaste de Lula ainda está por vir, não custa esperar, um “intelectual” tucano repete a mesma coisa, um psicanalista diz que o povo gosta de fugir da realidade. Agora é fazer logo outra pesquisa, quem sabe alguma oscilação no apoio a Lula, quem sabe aumentar a dose do pânico, talvez mandar embora essa equipe de funcionários incompetentes, talvez outra dose de uísque”.
Talvez lobotomizar a equipe, não, sai muito caro, talvez subcontratar uma equipe “mais jovem e flexível”, cujas cabecinhas já vêm em branco, nas quais se pode inscrever qualquer merda, afinal, eles não têm memória do passado, tanto quanto ideais/esperanças/aspirações futuras.
Pois é, uma elementar aula de mídia que literalmente – parafraseando o presidente – sifu.


Texto da escritora paulistana Márcia Denser publicado originalmente

no Congresso em Foco do dia 10-12-2008.

Nenhum comentário: